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O Real e a Pandemia

  • Foto do escritor: Paulo Russo
    Paulo Russo
  • 17 de abr. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 5 de jun. de 2020

Lacan ao definir os registros psíquicos do Real, Simbólico e Imaginário foi magistral na medida que conseguiu conceituar o processo de identificação do indivíduo, central na teoria Lacaniana, na compreensão das estruturas mentais e suas relações com os objetos.

O Simbólico como lugar da linguagem, a relação com o Outro, o inconsciente estruturado como linguagem.

O Imaginário representando as imagens construídas a partir do que buscamos no Outro (amor, objeto, gozo, etc.).

Já o Real se refere a tudo aquilo que é impossível de simbolizar pela linguagem, o que é impenetrável.

Quando passamos por um trauma, nossa estrutura psíquica se esfarela por assim dizer, e perde o equilíbrio natural das forças libidinais objetais. Acontece quando por exemplo perdemos um ente querido de forma abrupta, causando um verdadeiro desespero e angústia na maioria das vezes. Esse é o Real que invade essas estruturas causando desequilíbrio. O indivíduo geralmente se afasta, se isola para poder reorganizar as energias psíquicas na tentativa de reestruturar os registros do simbólico e imaginário, em um processo conhecido como Luto. Freud abordou este tema em seu importantíssimo livro “Luto e Melancolia”, escrito em 1915. Leva tempo e é muito doloroso na maioria das vezes, e quando, por algum motivo esse processo falha, se instala a melancolia, podendo migrar para uma depressão profunda.

A atual Pandemia que estamos vivendo, da forma que se instalou, rápida, sem muitas informações científicas, causando medo por algo tão desconhecido e mortal, e nos obrigando a adotar medidas restritivas inéditas e dolorosas pelo afastamento social, se tornou nosso Real, invadindo a estrutura e desiquilibrando as forças psíquicas, causando esta ruptura da chamada “normalidade", causando assim toda ordem de sintomas, como medo, angústia, ansiedade, tristeza, sensação de futuro incerto, pânico e depressões profundas.

Assim como acontece nos traumas, é preciso elaborar esse Real em um processo semelhante ao luto freudiano, através da simbolização do sofrimento pelo uso da linguagem, até que se alcance novamente o equilíbrio do sistema psíquico. Para muitos este processo é muito difícil, e deveria ser suportado por uma análise afim de adquirir compreensão do inconsciente e alivio das dores.

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