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O Entrar em Análise

  • Foto do escritor: Paulo Russo
    Paulo Russo
  • 15 de jul. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 31 de ago. de 2021

Uma questão que usualmente se levanta quando se fala em tratamento psicanalítico (,) é aquela que justamente diz respeito sobre do que exatamente se trata tal tratamento, o que é análise afinal? E o que significa entrar em análise? Quando e como se dá isso? Quando alguém procura tratamento analítico, geralmente é porque sofre de algum sintoma e talvez também porque tal sintoma já tenha ficado tão perceptível às pessoas a sua volta, que isto acaba piorando a situação e causando mais dificuldades e transtornos em sua vida; ela sabe que algo está causando sofrimento e tornando sua vida mais difícil, quando não um verdadeiro inferno. O que fazer? Até decidir procurar um psicanalista, quantas dúvidas e angústias atormentam o sujeito. Será que funciona? Tenho jeito? Será difícil? Quanto tempo levará? Será caro? E assim por diante. O tratamento psicanalítico, diferentemente das psicoterapias comportamentais, não se dá pela sugestão ou influência, mas sim por meio do mecanismo da associação livre, onde o indivíduo é convidado a falar somente o que lhe vem à cabeça, o que para a grande maioria das pessoas é muito difícil, principalmente no início. É comum as pessoas quererem falar sobre os acontecimentos do dia a dia, ou mesmo esperar que o analista sugira algo para ser conversado. Importante pontuar que a relação analisando-analista não é uma relação de amigos, tampouco o é a conversa que daí surge. O analista não tem a função de dar conselhos ou dizer o que o sujeito deve ou não fazer, mas sim ser uma espécie de espelho através do qual o analisando possa ver suas questões, sendo que falar o que lhe vem à cabeça é, por assim dizer, como o reflexo deste espelho. É preciso fazer com que o sujeito aceite falar o que lhe vem à mente sem restrições, que ele aceite falar dos assuntos mais íntimos, e por vezes vergonhosos, que rompam com os mecanismos de defesa (censuras, julgamentos) que o impedem de efetuar esta jornada ao inconsciente e assim passe a descortinar o que foi recalcado. Quando isso acontece, dizemos que ocorreu o que Lacan chamou de retificação subjetiva, ou seja, o sujeito passa a se implicar no sofrimento do qual ele mesmo se queixa (,) e passa a se responsabilizar pelo seu sintoma. Entra assim em análise e passa a falar deste Outro que o constitui como sujeito. Também aí se estabelece a transferência, processo através do qual deslocamentos ocorrem na relação analista-analisando, lembranças perdidas que se atualizam na sessão e possibilitam interpretação e elaboração. O saber nasce deste processo. Nesta hora o divã se torna fundamental, na medida em que possibilita um verdadeiro curto-circuito na relação imaginária com o analista e, como diz Lacan, ele alcança a conquista de um vazio fundamental para levar o analisando a falar, não mais com uma pessoa, mas com a sua fantasia, e com tudo o mais que o constituiu como sujeito e que produziram seus sintomas, abrindo assim a possibilidade de ressignificação (simbolização) e mudança. A respeito do divã, vale a frase poética de Lacan, falam-se algumas coisas deitado que não se falaria em outra posição, e é na posição deitada que se fala de amor. Porém sabemos que no início não é fácil, o discurso do sujeito é no sentido de obter algo da pessoa do analista, respostas, explicações (,) e fórmulas para a tal cura desejada dos sintomas. O analista é visto como um senhor poderoso e detentor de um saber e é ai que o manejo da sessão se torna crucial, é preciso fazer com que o sujeito abandone este discurso e passe a falar somente o que lhe vem à cabeça (,) e comece a se escutar, obtendo daí um saber diferente, o seu próprio saber, escondido desde sempre. E por que algumas pessoas desistem no meio do caminho? Por que abandonam o tratamento justamente quando começam a associar livremente? Talvez parte da resposta tem a ver com seu sintoma e quanto custaria abandoná-lo, pois sempre há um certo gozo por trás dele, mas também com o quanto de energia de fato o sujeito está disposto a colocar em tal jornada, pois não é fácil, dói, causa muita angústia e sofrimento (,) e não há como garantir que uma análise será bem-sucedida. Mas apesar de tudo, o percurso psicanalítico é belíssimo, propicia uma verdadeira jornada ao inconsciente, abrem-se várias possibilidades (,) e o desejo emerge, trazendo não exatamente felicidade, mas a sim a verdade.


 
 
 

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2020 por Paulo Russo Psicanálise

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