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A Falta e o Desejo

  • Foto do escritor: Paulo Russo
    Paulo Russo
  • 5 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 10 de jun. de 2023


Sabemos que o ser humano possui um vazio congênito, desde sempre, e este vazio nos leva a uma busca constante de completude, nos faz sentir faltantes, causando muita angústia na maioria das vezes. Nascemos assim, necessitados do cuidado do Outro, necessitados do olhar do Outro, como se fossemos uma única coisa com este Outro, e quando percebemos que isso não é verdade, que este Outro, que pode ser nossos Pais ou quem quer que seja que cuida de nós nos primeiros tempos de nossa existência, também tem olhos para outros objetos que não nós, sofremos o que chamamos na psicanálise de “ferida narcísica”, uma ruptura com esta relação imaginária e idealizada, na maioria das vezes com a Mãe, significando um sofrimento e trauma pela perda do objeto de amor, perda esta que será recalcada e inaugurará nosso inconsciente.

Lacan nos disse muito sobre isso em seu famoso texto sobre o Estádio do Espelho, momento em que a criança se vê inteira, como em uma imagem de espelho e se percebe única. Esta imagem sou eu, grande descoberta para ela. Este sujeito, agora inconsciente e barrado, sente, por assim dizer, o vazio deixado por esta perda. Ele não é mais o objeto de amor único e onipresente, e esse saber causa sofrimento e por isso mesmo direciona, a partir daí, energia libidinal em busca do retorno ao estágio de plenitude imaginária original, e a partir de nosso ingresso no mundo da linguagem, essa falta passa a impulsionar nosso desejo.

Vemos na clínica e nas queixas em geral, esta busca por completude, queremos ser o objeto do desejo do Outro, buscando a todo momento, principalmente em nossa sociedade contemporânea, estímulos que possam nos trazer de volta o ideal de completude imaginária perdido. Fantasiamos relações idealizadas, buscamos através das tecnologias sociais ser percebidos, estimulados por novidades a todo momento, na tentativa vã de preencher a angústia de um vazio que sempre existiu e morrerá conosco. As depressões, entendidas como fenômeno social, representam esta impossibilidade do sujeito responder aos imperativos de uma sociedade demandante por estímulos o tempo todo, e assim se sentem excluídas e abandonadas do olhar e do desejo do Outro.

Falarei em outro artigo das pulsões e do objeto A, causa de nosso desejo.

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2020 por Paulo Russo Psicanálise

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